Existe uma forte divisão entre as lideranças. De um lado alguns acreditam na volta plena das pessoas aos escritórios, mas para isto veremos certas mudanças não só nos edifícios, mas também nos negócios que estão ao redor, como restaurantes, bancos, empresas de comércio e de serviços em geral. Do outro lado vemos um crescente discurso de home office, anywhere office, flexible office e adaptable office. Embora muitos vão dizer que se reconhecem nestes modelos, precisamos lembrar que atualmente poucas pessoas nas empresas entram nestes modelos, e o foco pós-pandemia é expandir estes modelos para os demais cargos e funções nas empresas e governo, consolidando as conquistas do período pandêmico.

Parece tudo a mesma coisa, mas não são.

Home office tem mais a ver com o que chamamos no Brasil de teletrabalho, onde a empresa adapta a residência para que o profissional exerça suas atividades, mas pela natureza das atividades, estas só podem ser exercidas em um local preparado, como médicos, advogados, telemarketing e cobrança. O Anywhere Office tem modelo mais flexível, e funciona bem para times gerenciais, vendas, marketing, etc, e também para certas atividades como reuniões, entrevistas e networking. A premissa deste modelo é a plena digitalização de todo trabalho, inclusive de materiais de consulta, ferramentas de apoio, gestão de processos etc. Adaptable office é uma tentativa entre o escritório normal e o coworking, uma nova versão do espaço compartilhado, uma releitura da importância dos edifícios nos objetivos das empresas. Este modelo foi explicado com o binômio “We space x Me space”. No caso, as empresas irão recriar suas instalações para receber o We Space que são todas as atividades que têm por objetivo o engajamento, desenvolvimento da cultura empresarial, mentoria, suporte à tecnologia, integração ou desenvolvimento de comunidade, colaboração e criatividade. O Me Space é o trabalho individual, como montar uma pesquisa, fazer uma análise, estudos financeiros, análise de crédito do cliente, planos de marketing, desenvolver peças de marketing etc. Atividades que podem ser executadas em qualquer lugar, somente recebendo limitação do grau de digitalização dos processos e das informações da empresa. Quanto mais focado em software e app a empresa estiver, maior a flexibilidade e produtividade do Me Space.

Vamos abrir um capítulo a parte para o flexible office, pois esta é uma grande quebra de paradigma. Neste modelo, empresas e colaboradores assumem compromissos entre si e passam a trabalhar por responsabilidades. São abolidas a principais regras que hoje estão pautadas a CLT brasileira, como controle de jornada, subordinação, remuneração, horas extras, benefícios etc. O foco está numa empresa amplamente digitalizada, que irá manter apenas atividades e infraestrutura para a criação de cultura, suporte à tecnologia, criação de autoridade, engajamento, mentoria criatividade, comunidade, colaboração. As pessoas terão plena liberdade para atuar como desejam, mas as relações formais, leis e acordos trabalhistas deverão ser revistos para que as empresas consigam implementar este modelo com proteção jurídica adequada. Mudam os papeis do sindicato, do estado, das empresas e dos colaboradores.

Pagada de Carbono

Um ponto que norteia estas discussões da volta aos edifícios versus o trabalho em qualquer lugar está focado na pegada de carbono que as empresas se propuseram a reduzir ou eliminar num curto prazo de tempo.

Num ambiente controlado pela empresa, notoriamente os edifícios novos sustentáveis, como os certificados LEED, é muito fácil tomar decisões que reduzem rapidamente a pegada de carbono. Mas, e no ambiente descentralizado? Como estas coisas poderão ser controladas? Seria a oportunidade da construção e do retrofit de casas e apartamentos para atenderem critérios como o LEED? Já estamos presenciando no Brasil algumas iniciativas de edifícios residenciais adotando LEED em seus projetos. Mas para isto funcionar, as empresas terão que controlar seus colaboradores, e os colaboradores de seus parceiros e fornecedores para também aderirem ao zero carbon emission.

Como isto será possível? O modelo baseado nos CBD (Central Business District) também não garante a totalidade do carbon free, porque as pessoas precisam se deslocar para o trabalho, adquirir produtos de beleza, roupas, sapatos, alimentação fora de casa, que não estão sob controle dos empreendimentos. Não sei o resultado desta equação, mas ela precisa ser resolvida antes de partirmos para um modelo radical que deverá provocar impactos determinantes nas cidades.

Novo papel do trabalho para as próximas décadas.

Os próximos dez anos serão de muitas mudanças interessantes, especialmente com uma redefinição do papel do trabalho neste mundo que se seguirá. As velhas fórmulas vão atrapalhar mais do que ajudar. Maior autonomia, maior negociação individual ou pequenos grupos, maiores responsabilidades e maior poder de decisão sobre benefícios para empresas e colaboradores serão o grande movimento do mercado.

As empresas estão tentando entender como trazer os colaboradores para o escritório, já que para uma grande parte não será exigido. As empresas estão em busca de respostas e alternativas de modelos e ideias. Estas ideias e modelos deverão passar obrigatoriamente pela parte regulatória e legal dos contratos trabalhistas.

Luis Fernando Gardel Deak
Corretor de Imóveis CRECI-SP 131.710-F | CNAI 9.898 | REALTOR CIPS, SRS
Conciliador JUCON CRECI-SP
Gestor de Projetos PME, MBA, Compliance.
Advogado – Direito Digital, LGPD e Imobiliário

Graduado em Direito pela UNIP, pós-graduando em Direito e Processo Civil pela EPD; Membro da ANPPD e ANADD; Membro efetivo da Comissão de Privacidade e Proteção de Dados da OAB-SP; Ex-membro da Comissão de Direito Digital e Compliance da OAB-SP, e ex-Membro da Comissão de Direito Urbanístico da OAB-SP.
Graduado em administração de empresas, pós-graduado em marketing pela ESPM, MBA em gestão estratégica de negócios pelo ITA/ESPM, tem 25 anos de experiência no mercado de tecnologia implementando metodologias, sistemas de gestão empresarial, consultoria empresarial.
Corretor de imóveis desde 2012 especializado em imóveis comerciais (CRECI-SP 131.710-F), perito avaliador (CNAI 9.898), certificado CIPS pela NAR e SRS pela NAR/REBI, membro do grupo de avaliadores imobiliários do CRECI-SP, conciliador na JUCON (Junta de Conciliação) do CRECI SP. Experiência em transações imobiliárias de locação e vendas de espaços corporativos para escritórios, varejo e logística.

MIPIM 2021 – Perspectivas dos líderes mundiais do mercado imobiliário sobre o impacto da pandemia no trabalho. Home Office, Flexible Office e Adaptable Office.
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